10 janeiro 2014

Entrevista Renato Veríssimo

Renato Veríssimo, 23 anos, juntou-se esta época à equipa da CHE, onde colabora directamente com os plantéis júnior e sénior.

1- Qual a função que desempenhas na estrutura técnica do clube?
A minha função na estrutura técnica do clube passa pela preparação física das atletas, bem como da parte motivacional das mesmas. Sinto que é imprescindível ao rendimento de qualquer atleta aliar a componente física à capacidade mental. Só assim consegues atingir qualquer objectivo que te surja.

2- Como surgiu esta ligação, ainda bastante recente, à equipa da CHE?
Esta ligação à equipa da CHE Lagoense tem uma história curiosa. Começou pela ideia da Daniela Vicente, jogadora das seniores, em eu poder ajudar na preparação física do plantel sénior pois reconhecia-me capacidades para tal. A proposta foi feita ao Jóia, treinador das seniores, o qual aceitou e pôs-me à vontade para trabalhar todas as vertentes que eu achasse pertinentes. Ao ver as juniores treinar, senti que podia ser também mais um complemento à sua preparação diária (diga-se muito boa). Propus à Ângela, treinadora principal, se podia ajudar na preparação física do plantel das juniores. A proposta foi aceite, e a partir daí esta ligação tornou-se quase que uma paixão. Deixo desde já o meu agradecimento às pessoas que me integraram e deram a oportunidade de poder trabalhar numa área que realmente amo, o treino.

3- O que faz exactamente um preparador físico?
Um preparador físico é o elemento da estrutura que dentro das suas competências prepara a componente física. Diria mais, ser preparador físico é ser responsável pela preparação neuro-muscular, a preparação orgânica e ainda a periodização do treino. Cabe ainda a esta função aperfeiçoar as componentes primárias do treino. Por outras palavras, tem a principal tarefa de encontrar o equilíbrio e desenvolver as qualidades motoras: velocidade, resistência, força, flexibilidade, agilidade e coordenação.

4- Qual a importância da preparação física no rendimento de uma equipa, em geral?
A preparação física assume hoje uma especial importância no rendimento da equipa, que acerca de 15, 20 anos atrás não era reconhecida. Eu penso que tu podes ter uma excelente equipa, com enormes capacidades técnico-tácticas, mas se fisicamente fores frágil, não ganhas. É sem duvida importante a aposta no desenvolvimento físico, na medida que ficas mais apto, “mais à frente” para poderes chegar ao sucesso. Outra função da preparação física, na minha óptica, é a prevenção e recuperação de lesões musculares, articulares. É uma forma de superação pessoal.

5- Como foi a aceitação por parte das atletas em relação ao teu trabalho? É que nunca antes a CHE teve alguém que se preocupasse exclusivamente com a componente física.
Posso-vos dizer que quando comecei, ia um pouco medo. Via em cada um dos plantéis que trabalho, enorme qualidade, mas acima de tudo um espírito de grupo muito bom, e pensava “Como me vou integrar?”. Pois foi mais fácil do que eu pensava. Tentei explicar o quão importante era este trabalho que ia desenvolver, não para mim, mas para cada um que treina diariamente. A aceitação foi aos poucos, nunca me senti um corpo estranho, muito pelo contrário, senti um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. O feedback é muito positivo, o que me deixa muito orgulhoso por notar uma tremenda evolução desde que comecei e sentir que hoje o trabalho físico é visto como uma coisa natural e não como um “tormento”.

6- Estavas habituado a treinar/trabalhar com o sexo masculino. Quais as principais diferenças que encontras ao trabalhares agora com o sexo feminino?
Já tinha treinado futsal na escola, em Lagos, mas não foi uma actividade contínua, trabalhava só com a GR.  Como dizes, sempre treinei rapazes, mais novos. Notei uma verdadeira humildade, seriedade e muita competência. Os que treinei muitas vezes pensavam” Já sei fazer.” ou “Para que é que vou fazer isso se depois não jogo?”. Não mostravam ser competitivos, nem tão pouco ter o espírito de grupo que faça da equipa uma fortaleza, uma família. O sexo feminino é mais genuíno e assim torna-se mais fácil trabalhar, porque tentam sempre superar-se. Treinam com uma paixão que muito sinceramente pensei não encontrar.

7- Quais as componentes da preparação física que achas mais importantes no futsal?
O futsal é uma modalidade de grande desgaste físico, joga-se a uma intensidade altíssima, com muitas trocas posicionais, transições rápidas, remates, enfim… Neste sentido, considero as mais importantes, a resistência e a velocidade, aliadas a uma boa coordenação motora. Estas três, na minha opinião, são as mais determinantes e as que podem decidir resultados, quando a técnica e táctica é esquecida.

8- O desporto faz parte da tua vida. Fala-nos um pouco sobre o teu percurso desportivo.
Bem, eu comecei muito novo a jogar futebol no Juventude Clube Aljezurense, sendo na primeira época avançado no escalão de escolinhas, tinha 9 anos. Nas épocas seguintes fixei-me na posição de Guarda-redes. Durante 10 anos joguei no Aljezurense tendo alcançado um titulo de campeão distrital de iniciados, num jogo marcado pelo desempate nas grandes penalidades (defendi 2). Nesta altura, já tinha feito testes no Sporting e Setúbal, não tendo ficado por azar, ou se quiserem falta de conhecimentos. Fui continuando a sonhar, e na maior humildade fui continuando no clube que me lançou. No primeiro ano de júnior  fui aposta da equipa sénior que militava na primeira divisão distrital do Algarve, tendo efectuado 11 jogos como titular mais um como suplente. Passei depois pelo Portimonense no último ano de formação, onde realizei apenas 4 jogos, contudo foi o salto qualitativo no treino, na paixão e na consolidação do objectivo de ser algo no futebol. A experiência no nacional deu-me uma concepção que o futebol é mais que duas equipas a jogar, é sim uma verdadeira mistura de factores que resultam no sucesso. Passei depois por alguns clubes sem nunca ter atingido o nível que havia atingido e que me levou às selecções do Algarve. Odeaxere, Aljezurense, Renascente S.Teotónio, Odemirense, foram os clubes que me abriram as portas para poder desfrutar e sonhar. Terminei a carreira devido a uma lesão no joelho esquerdo, tendinite rotuliana, lesão crónica.


9- Pensas construir uma carreira ligada ao futebol/futsal, enquanto preparador físico, ou vês isto apenas como um hobby?
Naturalmente e porque sou ambicioso, quero especializar-me no treino, por forma a construir uma carreira. Não sendo uma verdadeira obsessão, é uma meta, um objectivo para o qual trabalho. Infelizmente não tem havido uma aposta da Federação Portuguesa de Futebol bem como do Instituto Português do Desporto e da Juventude. Espero que a minha vida profissional possa conciliar-se com o treino, com o futsal/futebol, com o desporto em geral.

10- Que mensagem gostarias de deixar para as atletas da CHE?
A todas as atletas da CHE, queria em primeiro lugar desejar um excelente 2014. Posteriormente queria-vos dizer que só com o trabalho sério e eficaz, aliado a uma forte determinação e perseverança, podem alcançar o sucesso. Acreditem nas vossas capacidades, o talento é vosso, deitem-no cá para fora. Não queiram ser estrelas, queiram ser o que são, não queiram comprar sonhos, trabalhem para alimentar o sonho. Sejam humildes e amigas, guerreiras e lutadoras. Que o vosso balneário seja a vossa fortaleza. Por fim, dizer-vos que é um verdadeiro orgulho, prazer trabalhar com todas vocês. Um especial agradecimento à CHE por me dar esta oportunidade de continuar ligado ao desporto!

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