Renato Veríssimo, 23 anos, juntou-se esta época à equipa da CHE, onde colabora directamente com os plantéis júnior e sénior.
1- Qual a função que desempenhas na estrutura técnica do
clube?
A minha função na estrutura técnica do clube passa pela
preparação física das atletas, bem como da parte motivacional das mesmas. Sinto
que é imprescindível ao rendimento de qualquer atleta aliar a componente
física à capacidade mental. Só assim consegues atingir qualquer objectivo que
te surja.
2- Como surgiu esta ligação, ainda bastante recente, à
equipa da CHE?
Esta ligação à equipa da CHE Lagoense tem uma história
curiosa. Começou pela ideia da Daniela Vicente, jogadora das seniores, em eu
poder ajudar na preparação física do plantel sénior pois reconhecia-me
capacidades para tal. A proposta foi feita ao Jóia, treinador das seniores, o
qual aceitou e pôs-me à vontade para trabalhar todas as vertentes que eu
achasse pertinentes. Ao ver as juniores treinar, senti que podia ser também mais
um complemento à sua preparação diária (diga-se muito boa). Propus à Ângela,
treinadora principal, se podia ajudar na preparação física do plantel das
juniores. A proposta foi aceite, e a partir daí esta ligação tornou-se quase
que uma paixão. Deixo desde já o meu agradecimento às pessoas que me integraram
e deram a oportunidade de poder trabalhar numa área que realmente amo, o
treino.
3- O que faz exactamente um preparador físico?
Um preparador físico é o elemento da estrutura que dentro das
suas competências prepara a componente física. Diria mais, ser preparador
físico é ser responsável pela preparação neuro-muscular, a preparação orgânica
e ainda a periodização do treino. Cabe
ainda a esta função aperfeiçoar as componentes primárias do treino. Por outras
palavras, tem a principal tarefa de encontrar o equilíbrio e desenvolver as
qualidades motoras: velocidade, resistência, força, flexibilidade, agilidade e
coordenação.
4- Qual a importância da preparação física no rendimento de
uma equipa, em geral?
A preparação física assume hoje uma especial importância no
rendimento da equipa, que acerca de 15, 20 anos atrás não era reconhecida. Eu
penso que tu podes ter uma excelente equipa, com enormes capacidades técnico-tácticas, mas se fisicamente fores frágil, não ganhas. É sem duvida
importante a aposta no desenvolvimento físico, na medida que ficas mais apto, “mais
à frente” para poderes chegar ao sucesso. Outra função da preparação física, na
minha óptica, é a prevenção e recuperação de lesões musculares, articulares. É
uma forma de superação pessoal.
5- Como foi a aceitação por parte das atletas em relação ao
teu trabalho? É que nunca antes a CHE teve alguém que se preocupasse
exclusivamente com a componente física.
Posso-vos dizer que quando comecei, ia um pouco medo. Via em
cada um dos plantéis que trabalho, enorme qualidade, mas acima de tudo um
espírito de grupo muito bom, e pensava “Como me vou integrar?”. Pois foi mais
fácil do que eu pensava. Tentei explicar o quão importante era este trabalho
que ia desenvolver, não para mim, mas para cada um que treina diariamente. A aceitação foi aos poucos, nunca me senti um
corpo estranho, muito pelo contrário, senti um reconhecimento pelo trabalho
desenvolvido. O feedback é muito positivo, o que me deixa muito orgulhoso por
notar uma tremenda evolução desde que comecei e sentir que hoje o trabalho
físico é visto como uma coisa natural e não como um “tormento”.
6- Estavas habituado a treinar/trabalhar com o sexo masculino. Quais
as principais diferenças que encontras ao trabalhares agora com o sexo
feminino?
Já tinha treinado futsal na escola, em Lagos, mas não foi uma
actividade contínua, trabalhava só com a GR.
Como dizes, sempre treinei rapazes, mais novos. Notei uma verdadeira
humildade, seriedade e muita competência. Os que treinei muitas vezes pensavam” Já sei fazer.” ou “Para que é que vou fazer isso se depois não jogo?”. Não mostravam
ser competitivos, nem tão pouco ter o espírito de grupo que faça da equipa uma
fortaleza, uma família. O sexo feminino é mais genuíno e assim torna-se mais
fácil trabalhar, porque tentam sempre superar-se. Treinam com uma paixão que
muito sinceramente pensei não encontrar.
7- Quais as componentes da preparação física que achas mais
importantes no futsal?
O futsal é uma modalidade de grande desgaste físico, joga-se
a uma intensidade altíssima, com muitas trocas posicionais, transições rápidas,
remates, enfim… Neste sentido, considero as mais importantes, a resistência e a
velocidade, aliadas a uma boa coordenação motora. Estas três, na minha opinião, são as
mais determinantes e as que podem decidir resultados, quando a técnica e
táctica é esquecida.
8- O desporto faz parte da tua vida. Fala-nos um pouco sobre
o teu percurso desportivo.
Bem, eu comecei muito novo a jogar futebol no Juventude Clube
Aljezurense, sendo na primeira época avançado no escalão de escolinhas, tinha 9
anos. Nas épocas seguintes fixei-me na posição de Guarda-redes. Durante 10 anos
joguei no Aljezurense tendo alcançado um titulo de campeão distrital de
iniciados, num jogo marcado pelo desempate nas grandes penalidades (defendi 2).
Nesta altura, já tinha feito testes no Sporting e Setúbal, não tendo ficado por
azar, ou se quiserem falta de conhecimentos. Fui continuando a sonhar, e na
maior humildade fui continuando no clube que me lançou. No primeiro ano de
júnior fui aposta da equipa sénior que
militava na primeira divisão distrital do Algarve, tendo efectuado 11 jogos
como titular mais um como suplente. Passei depois pelo Portimonense no último
ano de formação, onde realizei apenas 4 jogos, contudo foi o salto qualitativo
no treino, na paixão e na consolidação do objectivo de ser algo no futebol. A
experiência no nacional deu-me uma concepção que o futebol é mais que duas
equipas a jogar, é sim uma verdadeira mistura de factores que resultam no
sucesso. Passei depois por alguns clubes sem nunca ter atingido o nível que
havia atingido e que me levou às selecções do Algarve. Odeaxere, Aljezurense,
Renascente S.Teotónio, Odemirense, foram os clubes que me abriram as portas
para poder desfrutar e sonhar. Terminei a carreira devido a uma lesão no joelho
esquerdo, tendinite rotuliana, lesão crónica.

9- Pensas construir uma carreira ligada ao futebol/futsal, enquanto preparador físico, ou vês isto apenas como um hobby?
Naturalmente e porque sou ambicioso, quero especializar-me
no treino, por forma a construir uma carreira. Não sendo uma verdadeira obsessão, é uma meta, um objectivo para o qual trabalho. Infelizmente não tem havido uma
aposta da Federação Portuguesa de Futebol bem como do Instituto Português do
Desporto e da Juventude. Espero que a minha vida profissional possa
conciliar-se com o treino, com o futsal/futebol, com o desporto em geral.
10- Que mensagem gostarias de deixar para as atletas da CHE?
A todas as atletas da CHE, queria em primeiro lugar desejar
um excelente 2014. Posteriormente queria-vos dizer que só com o trabalho sério
e eficaz, aliado a uma forte determinação e perseverança, podem alcançar o
sucesso. Acreditem nas vossas capacidades, o talento é vosso, deitem-no cá para
fora. Não queiram ser estrelas, queiram ser o que são, não queiram
comprar sonhos, trabalhem para alimentar o sonho. Sejam humildes e amigas,
guerreiras e lutadoras. Que o vosso
balneário seja a
vossa fortaleza. Por fim, dizer-vos que é um verdadeiro orgulho, prazer
trabalhar com todas vocês. Um especial agradecimento à CHE por me dar esta
oportunidade de continuar ligado ao desporto!