22 maio 2012

Entrevista - João Jóia

João Pedro Jóia, 28 anos, é o treinador principal da equipa de Futsal de Seniores Femininos da CHE Lagoense há 2 anos.



1- Como e quando surgiu a tua ligação ao futsal?
A minha ligação ao futsal começou quando tinha 13 anos. Na altura, o Silves Clube, onde eu estava, abriu a secção e perguntaram a alguns dos que jogavam futebol de 11 se queriam ir treinar para o futsal. Fui um dos que aceitou e depois de alguns treinos e jogos treino, adorei, e nunca mais quis sair do futsal.

2- Para quem nunca teve oportunidade te ver jogar, como te descreverias enquanto jogador?
Bom isso não é fácil de responder. Quando era mais novo posso dizer que era um pouco irreverente e conflituoso. Depois, com o passar da idade, fui adquirindo maturidade, experiência táctica e técnica que me viria a ser muito útil para a minha posição (pivot). Mas acima de tudo, posso afirmar que sempre fui  amigo de todos os meus colegas e muito unido para com eles.

3- A passagem de jogador a treinador foi algo que tinhas planeado e como objectivo ou aconteceu inesperadamente?
Planeava um dia ser treinador, sim. Talvez não tão cedo como foi, mas depois de um problema físico tive que abandonar a pratica da modalidade e a partir dai fui logo convidado para integrar uma equipa técnica através de um antigo colega que também já se tinha tornado treinador. Por isso posso dizer que foi um pouco das duas coisas:  planeava um dia, sim, ser treinador e acabou por ser inesperadamente cedo. Se bem que não me arrependo de nada até hoje.

4-  Como surgiu o convite para treinares a equipa sénior da CHE e como está a correr esta experiência?
Entrei na CHE como treinador adjunto de um antigo colega de equipa. Lembro-me que depois de 2 anos com ele, como adjunto, ele disse-me que iria abandonar o clube para entrar noutro projecto, mas disse-me que, segundo a opinião dele, eu  estaria preparando para ser treinador daquela equipa e assim continuar o trabalho feito até ali. Eu concordei e achei-me também preparado para o desafio. Foi então que falámos com o director da CHE (Sr. Henrique Coelho), tendo ele concordado e decidido apostar em mim até ao dia de hoje. A experiência está a ser magnifica e gratificante, graças também à grande equipa que temos e às grandes mulheres que elas são. Tudo se torna mais simples. É de realçar também toda a ajuda e trabalho dos meus colegas de equipa técnica, João Santos e Ana Paula, que me ajudam muito.

5- Na tua opinião quais são as maiores diferenças entre o futsal masculino e feminino?
A maior diferença entre o futsal masculino e feminino é a parte táctica, a agressividade do jogo em si e também os apoios financeiros e directivos. Tacticamente o futsal masculino está muito mais desenvolvido que o feminino e, em termos de jogo jogado, nota-se logo isso. Nota-se também que no masculino o jogo é mais duro que o feminino. Essa tem sido a minha maior luta para com a minha equipa, adapta-las sempre ao presente tacticamente. Masculino ou feminino, o futsal é igual para os dois.Em termos de apoios, infelizmente, é sempre mais “fácil” apostar no futsal masculino do que no feminino, apesar de não concordar. Deveria haver igualdade.

6- És treinador de uma equipa feminina. Dizem que, do ponto de vista emocional, é mais difícil lidar com mulheres do que com homens. Concordas?
Eu não acho que assim seja, falo claro pela minha equipa, talvez fruto também da mentalidade de todas as jogadoras que tenho, tornam tudo mais fácil. Geralmente costuma-se dizer que as mulheres são muito conflituosas umas com as outras e complicadas. Na minha equipa não vejo nada disso, muito pelo contrário, são mulheres simples e sinceras com todo o grupo e equipa técnica. 

7- Quais as qualidades que mais valorizas numa jogadora?
Para mim uma jogadora tem que ser acima de tudo autodisciplinada para consigo própria e para com as outras e inteligente tacticamente, consoante o que lhe é exigido.

8- A CHE Lagoense e o Padernense, são as duas únicas equipas do campeonato sénior que apostam na formação há já vários anos. Na tua perspectiva, qual a importância da formação no Futsal Feminino?
Na minha opinião, penso que é muito importante ter a formação nos clubes. Primeiro de tudo, para irem criando a maturidade necessária como pessoas, consoante a idade de cada, para chegar ao próximo nível. E depois, porque assim quando chegarem ao escalão sénior, a parte técnica das jogadoras, tais como passe, recepção, controlo da bola e outras mais, já está desenvolvida, bastando assim inseri-las no sistema táctico da equipa, ficando assim a jogadora completa.

9- Depois de um torneio de abertura menos conseguido, a equipa sénior, para surpresa de alguns, classificou-se na 2ª posição do campeonato. Que balanço fazes da performance da equipa esta época?
Ficou desde logo definido que o torneio de abertura serviria para testar alguns sistemas tácticos a fim de ver qual seria a resposta da equipa nesses mesmos esquemas. Depois, ver quais seriam os indicados a se usar no campeonato. Por isso, seria de prever que o torneio de abertura pudesse não correr tão bem, se bem que nunca entrámos em campo para perder, muito pelo contrário. Findado o torneio de abertura, reviu-se todos os sistemas e, analisando jogo a jogo, eu e o resto da minha equipa técnica decidimos toda a parte táctica que se iria usar para o campeonato e, rapidamente, a equipa assimilou tudo correctamente. Começado o campeonato, o objectivo  passaria por ganhar jogo a jogo e fazer igual ou melhor do que se havia feito na época passada (3º lugar). Acabámos o campeonato na 2ª posição, o que para mim não foi surpresa nenhuma, porque temos uma boa equipa, que trabalhou e lutou para isso, sem querer estar aqui a tirar o mérito às outras todas, claro. O balanço que fica é muito positivo.

10- Fala-se muito que o Futsal Feminino no Algarve não tem o mesmo nível que tem o Futsal Feminino em outras zonas do país. Partilhas desta opinião?
Depois de nos últimos 2/3 anos ter visto pessoalmente alguns jogos dos campeonatos distritais de Lisboa e Setúbal, e de até já termos defrontados algumas equipas de outras zonas do país, aceito que se diga isso. Mas a verdade também é que a maior diferença começa logo pelos quadros competitivos, que no nosso distrito, com apenas 6 equipas, dificulta que se vá evoluindo o futsal na região. Mas também não posso deixar de falar no apoio da nossa própria associação, que é quase nulo em relação ao futsal feminino, o que contribui assim para a estagnação que existe.

11- O campeonato deste ano contou apenas com 6 equipas e um total de 10 jogos. Com este modelo organizativo, o tempo de competição é bastante reduzido. É possível manter as atletas motivadas para treinarem meses a fio para depois jogarem tão pouco?
É possível mas não é fácil. Acaba por ser possível pela paixão que as minhas atletas nutrem em relação à modalidade e ao clube, o que faz com que, apesar de só haver 10 jogos oficiais e mais alguns jogos treino, se trabalhe afincadamente e positivamente para evoluir treino a treino e assim chegar-se aos jogos em condições de lutar para ganhar.

12- Como prevês o futuro do Futsal Feminino no Algarve, tendo em conta a diminuição de equipas ao longo dos anos?
Infelizmente não prevejo um grande futuro para o futsal feminino, fruto também da crise que atravessa o país, da própria associação, que em nada ajuda ou se preocupa com o futsal feminino e claro, fazendo uma relação de quadro competitivo/gastos, acaba por sair uma época muito cara e assim alguns clubes desistem após um ou dois anos na modalidade e até alguns nem tentam criar equipa para a modalidade.

13- É exigido aos clubes que tenham um treinador credenciado no banco. Porém, todos os anos abrem-se cursos para treinadores de futsal que, pelas mais diversas razões, acabam por nunca se realizar. Como vês esta situação?
Eu sou uma das pessoas prejudicadas com esta situação.Uma das maiores razões para os cursos nunca irem avante é o numero de candidatos mínimos (25) que a associação exige para o curso se realizar. E, pelo que sei, as inscrições nunca atingem esse número, o que leva a associação a cancelar o curso. Esquecem-se é que depois quem sai prejudicado são aqueles que se inscreveram (que muitos ou poucos, se se inscrevem, logo precisam) e claro os clubes, porque não tendo ninguém credenciado na ficha de jogo ou no banco, são multados. Julgo que um clube ou um treinador não pode ser prejudicado neste caso, ainda para mais quando há algumas épocas que já não abrem cursos.

14- Quais os objectivos para a próxima época?
Os objectivos para a próxima época são fazer igual ou melhor do que foi feito esta época.

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